ENTORPECENTES (E ISOLAMENTO)

Bebida alcóolica só me atrai pela quentura das companhias e pelas lembranças que traz (ou leva). Lucy in the Sky with Diamonds não me leva pras nuvens nem me ajuda a escrever meus versos e devaneios (como este). De tudo o que é fumaça, prefiro a poeira da estrada e a lenha dando sabor ao milharal (infância e saudade). Ou ainda trem, turbina, motor, que pra perto ou longe levam-me em santas, loucas, imprevisíveis ou banais viagens (viajo).

Viajo comigo o tempo inteiro. Por outros motivos, viajo mesmo e muitas vezes, quase todos os meses.

Tenho esse e vários entorpecentes, música principalmente! Me entontecem, tranqüilizam, anestesiam, machucam, dopam ou viciam.

Ah! Cuida de mim que hoje eu sofro de overdose, amor. Tranca a porta por dentro e fica aqui. Traz água e sopro suave, que eu já me vicio (de você). Faz silêncio, me abraça, me protege, até que eu volte a ficar contente.

Eu tô mal mas por favor, não chama ninguém e desliguemos os telefones. Deixa tudo paradinho assim, que hoje eu sofro de overdose, amor; overdose de gente.
CRUZADAS

De todas as cruzadas às quais estava submetido, preferia as palavras. Cada letra que se encaixava num quadrinho o ajudava a esquecer os enigmas da vida em fogo cruzado e coração em chamas. Como se, ao desvendar os mistérios no papel, seus problemas encontrassem respostas matemáticas para as trilhas da vida.

A prova real não mais funcionava desde que um passo em falso transformara em guerra cruzada a santa paz que tinha.

Acordar, trabalhar e dormir tinham funcionado por tanto tempo. Por que inventara de questionar a rotina e as sensações? Por que pensar demais quando o mundo só solicita ações mecânicas e sem voltas? Sabia merecer as angústias e as noites mal dormidas. Ademais, encontrar tais soluções exigia um esforço tamanho diante da veloz e ininterrupta função de cortar temperos.

A frase matinal do chef não lhe saía da cabeça: “você não corta mais cebolas como antigamente”. O que lhe cortava o peito insosso e a cabeça dorida, fora dito com um sorriso brutal do chefe. A frieza dos superiores para criticar à queima-roupa é capaz de cruzar a mente de um homem que silencia ao ouvir a verdade. Mas estas lágrimas vêm das cebolas...

Cortar temperos por tantas horas já é cansativo o bastante, portanto, deixaria eficiência e soluções para as lâminas. E como as admirava! As facas podem atender às exigências do mundo sem perder a autenticidade: acordam e cortam organizadamente; para retomar uma relação não têm medo de fitar o outro, mesmo que sangre; na hora do cansaço, por fim, adormecem de verdade, (não precisam assistir às estrelas que cruzam a madrugada e revelam as angústias dos homens que choram e cortam cebolas).

O metrô estanca. Percebe o erro mortal dos que vivem sem viver: “transformação” com oito letras é E-V-O-L-U-Ç-Ã-O e não D-E-S-G-R-A-Ç-A, como arriscara inconscientemente. Porque em outra direção, para encaixar no jogo cruzado e maldito, “o que fazer em momentos difíceis” seria E-S-C-O-L-H-E-R e não D-E-S-T-R-U-I-R, como tinha pensado. Afinal, sempre arruinara as possibilidades e continuara ali, na escolha imutável dos que já não escolhem...

Por fim entendeu, como que num encaixe perfeito: o que parecia destruição por um golpe brutal e um sorriso sarcástico, era manifestação de sorriso sincero e satisfação. Revelação do que já não é por fortuna. Sim, chefe, já não corto cebolas como antigamente... e a lágrima que rola no rosto, de evolução e escolha ardente, dissolve-lhe as angústias.

Às vezes a calmaria engana e nem é paz o que se sente... E quando ela finalmente vem, não é morna, indolor ou transparente. É espada que teima, água quente que arde, mil texturas a incomodar e despertar o que está inerte.

Após contemplar as estrelas, adormece de verdade, como as navalhas do seu dia-a-dia. Sabe que o hoje, ao nascer do sol, terá evoluído e será antigamente. E todos os dias, entre escolhas e palavras, entre olhos e sorrisos cruzados, poderá cortar cebolas com uma paz diferente.
CULTO À CULTURA E VENERAÇÃO AOS AMORES

Quem não ama a cultura, não conhece a felicidade: não saboreia as magias da criação humana, não se aproxima de Deus ou de seja lá como o denominem, não se sente espremido pelo infinito universo de lendas e idéias e histórias e paixões e... não ri, não chora, entende cada vez menos das belezas da alma humana e é influenciado cada vez mais por suas atrocidades e limitações.

Quem não contempla o intangível, pára de sentir sede e, na secura dos bloqueados para o Amor, perde todos os amores. Encolhe-se, enruga-se, desnutrido do que estimula, do que diverte, do que sensibiliza, até mesmo do que enraivece. Porque quem não cultua o que o homem é capaz de produzir não pode senão converter-se em menos humano.

Alma penada em corpo de gente caminha em vultos, amedronta, mas não sente medo; gera curiosidade, mas por nada se interessa; provoca risos e balbúrdias, mas não se sabe mais na gostosura dos sorrisos.

Quem vive das mediocridades adultas, acordando para esfriar-se e esfriando-se para dormir, descobre-se um dia na gélida ponte que parte do nada para lugar algum. Entende o que perdeu, o que ocorre, o que falta, mas, na sua descrença treinada e paralisante, não cria nem leituras, nem soluções. E ali se estagna, na angústia de uma ponte imóvel...

Enquanto isso, outros andam, transitam, descobrem, deliciam-se. Enquanto isso, o mundo gira.

Como pode uma amizade crescer se não por deleites do que é simples?
Quem pode manter o convívio se não surpreende e se encanta?
Como podem dois suportarem-se para sempre se não descobrem-se um ao outro, mas também fora deles, contando as descobertas e construindo pontes que libertam para o infindo?

Construir, decorar, esculpir, cozinhar, comer, cantar, dançar, vestir, pintar, sentir e expressar-se, assistir e perceber as mãos em brasas pela aprovação sonora e universal, inventar, contemplar, ler, escrever, ouvir, tocar, descobrir mais e mais, perceber que mais é sempre pouco... e andar! Para frente, para trás livre e conscientemente, para o lado experimentalmente, em torno do próprio eixo subversiva ou deliberadamente. Correr ou parar!

A criança que brinca e regozija-se em ternuras, cores e sons prevê como se deve viver. Mas quem não pulsa com a cultura ou dela desistiu, já não pode mais amar de verdade. Admira alguém, mas se acha indigno do que de belo nela existe.

A cultura reinventa-se, cria novos rumos para a história da humanidade, de qualquer canto e de cada pessoa. Portanto, quem ama o que de dentro da gente sai, não se contenta! Existe na busca incansável por registrar a história que nasceu para viver, ainda que entre sofrimentos e suores.

Mas quem a ela não cultua, morre antes mesmo de morrer.
VOLTEI!

Não como quem sai da rota e a ela retorna, mas como quem morre e renasce diferente, com asas principiantes e amor ao que transforma, transita e integra.

Voltei de mim para mim, após fugas inúteis e reflexões fundamentais.
Por outro lado, voltei de mim para outra, após refúgios desnecessários e pensamentos úteis.

Espontaneidade e prudência, quando em excesso, são desgraça de quem quer alçar vôos rápidos. Mas também de nada valem sozinhas. Assim como cada um de nós e assim como minhas asas...

Eu, com meus recorrentes sonhos de Ícaro, aprendi primeiro a construir o caminho que não encosta no sol em brasas, apenas o contempla.

E entre atalhos e vôos, volto para onde não importa, sem pretensões, exigências, formas, temas ou periodicidade. Apenas o desejo de que cada texto seja como um retorno leve, de algum lugar (que não preciso saber) para onde não é necessário que se tome conhecimento.

Saber-se passado condiz para explicar que tudo é retorno (por isso os textos antigos de cara limpa). Mas saber-se presente e sem explicação condiz para evitar apegos e ridículos suicídios.

Portanto: que apesar de focada no que agora move as asas derretíveis dos meus sonhos, eu, por fim, tenha sempre a coragem de alçar novos vôos e dizer: voltei!






>>> FANTASIAS

>>> BLUE

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>>> COMPLETE(LY) AGAINST FEAR

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>>> CULTURA DESEJA CASAR-SE COM POVO QUE AMA

>>> ULTIMAMENTE PESSOAS (brainstorm)

>>> METONÍMIA

>>> MAL OLHADO

>>> COMPANHIA

>>> 12 DO 06: É DOSE E MEIA

>>> “NOITES COM SOL SÃO MAIS BELAS”

>>> SOU MARÉ

>>> METEORO E LÓGICA

>>> ENCHARCADA

>>> CONTRAMÃO

>>> ADAPTE-ME

>>> BARULHENTA NOITE PRETA

>>> DESPEDIDA E OLHOS DE VIDRO

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>>> E VOCÊ, NÃO VAI ESCREVER A SUA HISTÓRIA?

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>>> DESPEDAÇADA

>>> HARMONIÓCIO

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>>> VERSOS BRANCOS NO BREU

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>>> LOVE SONG

>>> SEMANA MUNDO UNIDO

>>> 24 DE AGOSTO. E VOCÊ? LEMBROU DO SEU DIA?

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>>> PAZ E PENSAMENTOS

>>> METAFORAÇÃO

>>> TO FORGET.

>>> DO LADO AVE-SOU

>>> CANETAS DO MUNDO

>>> CANTO SEM COR

>>> CORDEL DE MINHA GENTE

>>> HUMILDADE (HEIN?) FALTA

>>> MOONLIGHT

>>> DIÁRIAS

>>> (de diários...) SEM ALÇA/DECOLAGEM/ITÁLICA ALMA NA MALA

>>> SOBRE O QUE LÁ VIVI

>>> (de diários...) VIVER PELOS QUE PASSAM

>>> JÁ QUE NÃO CHEGAM AS FÉRIAS

>>> MUTANTE

>>> COMPUTADOR É ASSIM, GENTE NÃO!

>>> GREVE

>>> AINDA QUE NÃO DIGAS QUEM SOU

>>> OPINIÃO E MEDO

>>> NÃO PRECISA ESTUDAR

>>> NO DIA EM QUE CHOVERAM AS ÁGUAS E AS IDÉIAS - E VOLTOU A VONTADE DE ESCREVER

>>> ROTINA E LUZ

>>> "EU VOU NAVEGAR NAS ONDAS DO MAR..."

>>> O GATO COMEU

>>> 1/2






>>> ON LINE

>>> CARTAS REAIS PARA DEUS, ESCRITAS POR CRIANÇAS

>>> INSÔNIA E DEVANEIOS NA MADRUGADA

>>> CAMPAINHA

>>> POIS QUANDO A LUA NÃO MAIS ILUMINAR

>>> (de diários...) DEZEMBRO EM CRAVOLÂNDIA






FANTASIAS

Ponte firme entre sãs consciências
Diálogo puro entre inteligências
Compreensão muda e nostalgia
Alegria sublime e companhia

Tempos idos sem esclarecimento
Cumplicidade em quais sentimentos?
Entrelinhas, mistério, concordância
Desistência ou alguma esperança?

Beijos sonhados e abraços de verdade
Se diferem no corpo e na vontade.

Sem ler pensamentos alheios; sem poder descobrir-nos lá dentro;
sem querer encontrar as respostas, lanço cada pergunta ao vento.
Sem planos ou conversa ensaiada; sem sequer planejar o poema;
sem saber conversar no vazio; sem conseguir me livrar deste tema.

Acho mesmo é que esta poesia
Não entendeu o que o poeta quis
então trago uma canção tola e fria
que de tanto falar, nada diz.

Beijos sonhados sem abraços de verdade
Se diferem no corpo. E na vontade?
BLUE

My broken heart and I
we can never have everything
My tired body and I
we afford and sometimes fail
My healthy mind and I
we keep always learning
My married soul and I
We gotta start again.

My life, myself, whather I come or go
Doesn't matter
World is not waiting though.

The sky, the sea
oh, they're just so blue
My heart, my mind, my body and my soul
We are too.

So why the hell can't I laugh
And they surely do?
RESPIRA-ME

Furacão.
Desses que cantam ventos de mudança enquanto todos temem destruição.
Desses que passam rápido no deserto e ninguém, além da natureza, percebe o seu rastro.
Velozmente faz seu curso e se consome;
dança e vira ventania;
descansa e vira brisa.

Brisa.
Daquela de beira-mar, que traz as mensagens mais azuis do mundo aos ouvidos e às conchas.
Daquela que acaricia suavemente e só a sente quem se deixa tocar leve e sutilmente, no silêncio necessário de dentro pra fora.

Esse é o ar, que quer te dar vida mas nem sempre entende em qual velocidade andar para ajudar a natureza.
Aquele que se perdoa, recomeça e é grato a todos que respeitam seu ritmo e reconhecem o seu lado bom.

Existem muitas delas.
Destas mulheres que Deus criou, decididas pela rota a seguir.
Destas que seguem o seu caminho ora valentes, ora carentes e macias.

No curso do mundo, minhas partículas não têm pátria.
Me adapto ao espaço do momento, mas me espalho para novas conquistas.
O meu limite é o horizonte e o que me atrai.
Me deixo cortar por aqueles que de mim precisam.
Me misturo com o mar e mato minha sede.

Eu, ar, em sintonia com oportunos momentos de furacão, ventania ou brisa.






CEM SENTIDOS

Meu eu-Ícaro se perde em lirismo insano, quando viver em paz basta.
O sol que ilumina os dias derrete as asas fugazes. O sol que ilumina o infinito não derrete as asas de quem o busca. É impossível, como separar a beleza dessas folhas no chão da beleza das árvores secas.

Viva o obscuro que alimenta as estrelas. Viva o lirismo insano de Ícaro, que se arrisca voar para perto do sol. Viva o sol que derrete meu fim para me dar o infinito. Viva os galhos secos que se fazem teto na primavera. Viva a paz de viver minhas torturas sem tirar dos outros a felicidade. Quero o sol em mim, feita de cera, com minhas asas curtas que falam à vida: curta!

Por isso ultimamente as reflexões que faço se resumem às minhas experiências profundas e vãs, como a filosofia do poeta.
ESTALO

Como as estrelas que choram no céu
E transpassam a beleza da noite;
Como as flores que choram ao amanhecer
E sabem que é puro charme de orvalho;
Como a tristeza da natureza
Que é perfume e solidão,
Uma mulher "feita apenas para amar e ser só perdão"
Despertou-se em lágrimas que riem
E orvalho que declara sua beleza.
A mente descompassada já entendeu que nunca entende.
E para mim, que sempre supliquei por um sinal
Meu coração deu pr'essa história um ponto final.
CRISTAL

Às vezes é mais fácil fingir que o coração não existe do que assumir que ele está ai, em pedaços, como se fosse cristal envolto num mundo de vidro.

Pedaços de cristais e uns poucos raios de luz valem mais que uma farsa de fortaleza inabalável.

Acontece que agora este mundo parece uma bolha de sabão e, ainda que a luz produza lindos quadros coloridos, a bolha não resiste ao toque pontiagudo dos pedaços bonitos que doem. A dor desfaz a redoma ou a beleza derruba as barreiras? A fragilidade derrete a segurança ou o sofrimento liberta?

Quando escolho ter um coração, vem no contrato a possibilidade de morrer "aos muitos" pra renascer luminosa e múltipla. Tudo fruto de uma coisa só, distribuindo raios de espectros coloridos. O sofrimento está para todo ser humano. A felicidade ainda não... E todos têm um coração. Portanto, mais vale um sofredor de vidro do que um pseudo-feliz de pedra.

Eu sei disso tudo. Então deixa eu curtir essa paz no colorido despedaçado do meu peito iluminado.
BALLET DIVINO

"Na dança do tempo" canto à vida sem ritmo, língua ou grandes explicações.

O ritmo livre identifica-se com qualquer um.
A língua não faz falta quando há a caridade.
As explicações... essas nunca estão lá quando as procuramos e sim, quando mais precisamos e menos nos damos conta disso.

Tateando, tenho certeza que o escuro é belo. As formas escondidas em cada ângulo dessa incerteza asseguram a contradição imposta pela eternidade.

Eternidade: contradição e certeza, canto à vida sem ritmo ou língua, mas com grandes explicações.

"Na dança do tempo" eu-bailarina construo meus passos.
DOWNLOAD

Tempo de loucuras e neo-ditaduras. Anos cheios de Terceiras Guerras Mundiais. Terra que gira cheia de homens que não sabem pr’onde vão.

Tempo de comprar mercadorias on-line e pagar sem assinatura. Tempo de forjar amizades e abraçar sem tato. Tempos de fingir que não se quer e aceitar o que não faz feliz. Tempo de mais consciência do contentamento já que é na falta que damos valor às coisas.

Tempo de pensar coisas belas e não ter coragem de dizer.
Tempo de conversar mais sobre o que o faz infeliz.
Tempo de desencontros, já que assim "deve ser”.
Tempo que finge perfeição
Tempo quase perfeito, não fosse por um triz:
Não posso fazer o download de você.
COMPLETE(LY) AGAINST FEAR

Why are we both expecting sunrises
As if not risking just waiting for life?
Almost all of my dreams are about coming true
Even though my fantasies bring thoughts of you

The look, the light, the simple shot
The smile, the match, the way we touch
Being together or apart any ordinary day
Singing, crying, happily trying to play

Voices inside, our silence, our sighs
High hopes, gloomy places, to be glad, to be sad
Any condition, I’ve got to believe,
Could explain what for we both live

Whether kiss you or truly let you go
To say what I mean or to border caution
Perhaps I’ll be wrong, but now I’m sure
That I do miss you from the bottom

The magical words preceding around
The questions we have standing behind
Although never matters the piece or the fight
Deep in the eyes we can see what’s right

I certainly know it's not easy for you
So, if by any chance you're doubtful,
Just before you ask me I gotta say:
yes, darling, you may!
ADMIRÁVEL

Não se sabe até quando essa magia
De querer do encanto companhia,
De rir 15 minutos, 3 dias,
De saber q o outro já sabia...

Não se sabe porque foi ou se será
Nem importa se um dia virá.
Foi verdade o brilho nos olhos
O cheiro, a voz e o colo

Antes de dormir, sonhar
Ao adormecer, levitar
Cansaço escondido no abraço
De lua tardia, céu, regaço

De poema sussurrado ao vento
De promessas trocadas por silêncio
De leveza e de liberdade
De carinho de manhã e saudade

Se o tempo levar a explicação
Fica o riso, o cheirinho e a beleza
Do encontro do medo domável
Com a coragem do Admirável.
MEANWHILE

I'm raining a lot
Getting soft, getting light
And it's so nice
The best my nature could've done
So that I'm able
to give room back to the sun

Whether here or up there
Making me sleep or keeping me awake
Never mind to understand
The crazy things we might make

You've got a new talk
I'm having new thoughts
New visions to the life of mine
It's enough for me to shine






REVEILLON BRANCO E PRETO

Depois de tanto tempo "calada", queria escrever um texto no qual cada imagem fosse se auto-construindo, para manter a naturalidade do ano que começa. Abstrata, só conjugo a arte moderna das linhas pluri-direcionadas.

Entre miras infelizes e alvos quadrados, me despetalo sem perfume ou cores no meio da escuridão.

Reclamaram do meu sorriso incolor. Desconheceram o meu perfume inodoro. Aceitaram o meu beijo insípido. Nada indolor, tudo absurdo.

Flechas e braços se confundem, e meu abraço violento é incapaz de mirar obras surreais "neste vale de lágrimas".

Até que os campos são floridos, assim como a renda do meu suor; os beijos agridoces são gostosos como os abraços de outrora; o meu perfume enfeita-me de luz.

Vida Nova.

Romper o ano mergulhando no sal da terra para gozar de seus arcos marinhos e ser salva. Vidas.
DELÍCIA

Quero a medida dos desejos, cor ou consistência, como a receita de quem dá as costas ao precipício. A vida é seu tempero.

Quero o equilíbrio das forças untadas a ferro e paixão, como a forma de quem olha firme para uma nova estrada. A coragem é seu forno.

Quero o sabor dos prazeres frescos, como a beleza de quem, apesar de cansado, sorri ao lá chegar. As sensações são suas fatias.

Quero o sucesso das satisfações alheias como o banquete de quem se serve inteiro a cada pedacinho. Que o amor seja o tudo, não o fim.
GOSTOSA E INSISTENTE VIDA

Relacionamento é igual a fazer mingau:
Se parar de mexer, embola.
Se não mexer direito, fica sem sabor.
Se o leite não for fresco, estagna.
Se a panela não for apropriada, é tempo perdido.
Se o fogo não for brando, queima.
Se o caldo não for condensado, é projeto de.

Ela segue gastronômica, tentando acertar sabores num banquete onde nada se perde, em busca de um mingau feito com amor!
WINDS

Feel free was always the phrase
I used to think I understood it
I didn't
Now that things are getting clearer
It's like a baby bird starting to have a clue about its winds
Although all I have inside, I'm free

And there's no one who could tore it in peaces
or take it from my sureness

And I certainly have much more than a clue about it
"The answer is blowing in the wind"...
Gratitude.
Hapiness.
Light.
Freedom.
CULTURA DESEJA CASAR-SE COM POVO QUE AMA

Nem entro no tema afinidade, é questão de valorização mesmo. Me confundo quando procuro compreender o que o povo dessa Bahia realmente ama. Depois na prática é que se entende o que vem a ser amor verdadeiro, quando amar a própria cultura já seria um bom começo.

Em análises mais profundas a gente se depara com um público AB limitado, restrito a críticas sem fundamento. Alto lá! Não estou me referindo a pagodes e axé music generalizada. Não me refiro a shorts lá e blusas cá ao balanço daquilo. Tampouco à indústria cultural que temos. E quem me conhece sabe muito bem disso.

Refiro-me ao samba que "nasceu lá na Bahia", ao chorinho que é nosso, ao Afoxé que muitos nem sabem o que é. Ao teatro baiano, ao que se faz em prol da comunidade pobre ("e são quase todos pretos (...) ou quase brancos") através da cultura. Quem já foi ao Pelourinho? Agora, quem já foi nas entrelinhas do Pelourinho? "Pelourinho não é mais aquele".

Se da próxima vez que for à Europa continuar sendo obrigada a ouvir baianos (e brasileiros) restringindo a nossa cultura a nudez e carnaval, futebol e no máximo Guga, prostituição e violência, continuarei não medindo esforços para defender o outro lado da moeda, mas também perderei o respeito humano aos seres "críticos e cultos" do nosso país.

Amar a cultura do outro como a sua é algo complicado quando não somos capazes de fazer sequer o caminho de ida...
"Se farinha fosse americana (mandioca importada), banquete de bacana era farinhada."
ULTIMAMENTE PESSOAS (brainstorm)

Pego um ônibus
(mais queria pegar um avião),
Homem atropelado.
Carro que acelera.
Carro que vai embora.
Ninguém que socorre.
E bicicleta no chão.
E frutas espalhadas.
E "amanhã não tem feira".
E desespero no hospital.
E berros de socorro.
"Alguém faça alguma coisa".
Funcionários incompetentes.
Homem que espera.
Trabalho de Administração também.
Zero nem importa mais.
Carona pra faculdade.
Tudo certo finalmente.
E nota não será zero.
E o cêntuplo nesta terra.
E sorriso.
E desencontros.
E atropelos de novo.
E de novo.
METONÍMIA
para o noivado com aliança na corrente...

Entranhas de veias que se contorcem na tentativa de reduzir o pulsar do calor latente.
Bochechas quentes.
Os tímpanos ensurdecem.
Pé-de-ouvido no umbigo e digestão cerebral bloqueada na extremidade da argola
Solta o som!
afinal, sem trilha sonora não rola!
Melodia leve penetra nos ouvidos que nada ouvem,
suavidade do hidratante penetra nos poros e dissolve correntes.
E o prata dessa pingente não se dissolve jamais, porque foi comprada com carinho.
Foi nessa onda que tudo começou.
Movimento ondulante que se sente até nas veias
que leva as sensações ao pulso,
que atiça os tímpanos,
que clama por pé-de-ouvido,
que hidrata os sentidos,
que penetra nos poros,
que dissolve as correntes,
que bombeia o coração,
que ativa o corpo todo,
que leva ao cérebro,
que detecta: carinho!
MAL OLHADO

Depois de alguns rounds levantei da cama. A luta pra dobrar o cobertor deu lugar ao contraste do dia lindo lá fora, com os passarinhos que cantavam. Banho profundo e perfumado. Ok, volta por cima: maquiagem no rosto, sandália sem salto, blusinha branca e brincos leves. Tentativa de atrelar charme a conforto.

Elogios bacanas e elogios sacanas: "desse jeito atrai mal-olhado, flor. É perigoso andar assim sem maiores motivos. Viva os bofes, mas tem que considerar as cobras do mundo". E quem disse que estou preocupada com isso. aah! a superficialidade das coisas...

Parece que adivinhou! Que mal-olhado foi esse que convenceu São Pedro a fazer aquela nuvem jorrar daquele jeito, do nada? Não deu tempo de piscar. Quando processei que chuviscava, lá estava eu, ensopadíssima, tentando amenizar a catástrofe transparente, comprando blusa nova. Como assim não ter objeto na bolsa para aparar o aguaceiro?

Agora o charme virou atchim, que não combina com conforto, especialmente quando se deve levantar de madrugada como sempre, sem maiores motivos, pro batente. Sim, é perigoso andar assim!
COMPANHIA

Cada sorriso dado compensa o stress dos segundos! É como cinto de segurança em viagem tempestuosa. Presença sutil, por vezes desprezada, porém incontestável. E de turbulência em turbulência resolvemos pousar em bom estilo para fechar com chave de ouro mais uma viagem chamada dia. Não deu pra fazer escala em alguns programinhas legais. Se passasse, perderia o próximo horário e seria literalmente um atraso de vida.

Pouso definitivo após 14 produtivas horas ininterruptas, revezamento para almoço e contagens até dez para manter o nível e a temperatura que garantissem a tranqüilidade do transbordo.

Cervejinha pra quem gosta, conversa jogada fora, catação de moedas para pagamento mesquinho, comediante, gargalhadas, ambiente clássico-alternativo... peguemos aquelas 14 horas e joguemo-las pro alto, pra retomar daqui a pouco o tudo de novo dos vôos diários. Mas para as próximas viagens pré-determinadas e turbulentas está terminantemente proibido qualquer resquício de vôo sem escala. Combinado? Senão ninguém agüenta essa viagem cansativa que é viver.
12 DO 06: É DOSE E MEIA

Após as primeiras doze horas do dia já tinha sido questionada por mais de doze mil vezes a quantas andava a minha vida amorosa! Só hoje que surgiram perguntas do tipo... sim, é normal, vá lá. Mas perguntam e querem entrar na sua semana, meses; nas suas últimas doze semanas, de quando os trios ainda passavam em circuitos de doze horas duplas pela avenida.

Doze horas em ponto: energias já reduzidas à metade. O cansaço já toma conta de todos os doze neurônios restantes. Se estressar com esse papo é mais do que matemático, tão inútil quanto trocar seis por meia dúzia.

Por ironia vieram apenas doze (!) alunos fazer a prova hoje! mas onde se meteram os outros??? E ao chegar em casa, os doze apóstolos do vitral da sala são testemunhas: doze rosas me aguardavam em cima da mesa!

Passadas duas horas e meia das outras doze horas, nada de corações melosamente espalhados por aí, para que os dias voltem ao normal. A vida amorosa vai como todo mundo já sabe. Fim de ponto final a 12 dias de dançar bastante. Mudança de planos é doze (digo, dose). Agora as flores de maracujá que adotei no meu jardim, cítricas e perfumadas, com suas doze pétalas belas, são cultivadas com a doçura que busco em mim. Elas sabem que me sintonizo com elas e não mais sentem inveja das doze rosas apaixonadas.
“NOITES COM SOL SÃO MAIS BELAS”
após o show de Flávio Venturini


As luminárias disformes revezavam cores enquanto o "TOSCO" escrito em spray na bateria quebrava - e equilibrava - o tom melancólico do piano. Há muito que não saíamos assim. Coisa boa só é fazer umas loucuras de vez em quando com os amigos... Coisa gostosa é cantar no meio da rua, rir sem motivo e gargalhar quando eles aparecem. Cumplicidade, que não rima com amizade por acaso. Comoção pelas lembranças de um show e da companhia assistindo o mar se abrir pro luar.

- Tá chorando, morena?
- ...
(alguns segundos eternos)
- Que posso fazer para você parar de chorar?
- Nada. Ta tudo ótimo... (e tava mesmo)
- Eu posso te dar um abraço, se você quiser...
- hã!?!

Novas formas de paquera.
Eu ainda prefiro os sentimentos sem beijo aos beijos sem cor.
E de volta às luminárias, cenário do show.
SOU MARÉ

Abraços ao vento
Miragens
Frio na barriga
Desejos
Granizo de limites
Que me arranca, cheirando a matagal
Que me intriga, não mostra o final

Trovejo sólida
Chovo solidão
Martírio de penhasco
Mergulho num salto

Estio calada
Cega, ensolarada
Brisa e maresia
Leme de incertezas

Ondejo, maré
Altos e baixos
Âncora no cais
Cai

Levanto as velas
Horizonte tranqüilo
Meu mar furta-cor
Minha vida e o que rima
METEORO E LÓGICA

Nublando-me

Quando o céu está cinza ou a chuva cai
Quando o mar escurece ou você se vai
Frios os corações, ossos e sensações.

Respiro e conto até dez
Assisto o que me comove
Esperando florescer azul, cores e você

Desaguando-me

Consciência de asas abertas
Refém da minha verdade incerta
Livre das mentiras que criei?
Vítima do que lá deixei

Tão em falso e segura
Tão racional e obscura
Tão certa que assim deve ser
Tão triste pelo sol querer ver

Estiando-me

Com sons da chuva e do mar,
Eu cega me ponho a dançar
Com as cores que do frio ganhei
Pinto as rosas que um dia te dei.

Ensolarada

Quando o céu está cinza ou a chuva cai
Quando o mar escurece ou você se vai
Forte o coração, nervos e emoção.

Conto até dez e respiro
Me lembro do que me move
Assistindo florescer azul, cores e meu ser.
ENCHARCADA


A minha infância tinha umas pérolas insubstituíveis. Uma delas era o típico banho de mangueira. Chegar da praia cheinha de sal e calor e me esbaldar no quintal com aquela água fresquinha a enxaguar o corpo todo. Delícia!

Gosto do verão. Acompanhada, sozinha, com a brisa, com o barulho do mar, com as pessoas que encontro, com o siri, com meus pensamentos. Não importa. O prazer é sempre novo e por motivos novos. Tudo vale quando o dúbio azul espelhado é testemunha.

Tinha horário, mas nada que comprometesse um esbaldar-me em nostalgia, quando tudo era frescor e mangueira; quando não existia a sede, e a água estava sempre ali, à minha disposição.

Hoje o que me sustentou foi a certeza de que o oásis e a criança em mim ainda existem.
CONTRAMÃO

Excesso de doçura
Ausência de clareza
Franqueza camuflada
Malícia e beleza

Corpo expelido contra a solidão dos tempos
Momento exaltado na devassidão do vento
O brilho que se perdeu em função de muitas cores
A voz que se calou perdida em vãos amores

Fim sussurrado entre frases inconstantes
Cabeça e travesseiro numa briga incessante
Luz que se acendeu na escuridão da mente
O corpo se estendeu como a vândala serpente

De manhã pr'onde vai a lua?
De manhã pr'onde vai você?
Pra que rio correm suas veias?
Em que mar estão as sereias?

Vai
Diz
responde esta canção
Que eu
Fiz
Com aquela inspiração
Meu
Bem
Desperta o coração
Eu
Sei
Que talvez não é não
Vo...

Não sabe o que é perdão
Mas

Saí da contramão
No
Fim
Me empresta essa lição.
ADAPTE-ME

Amarre, amasse, amanse, arranque, avance, alcance
Estou aqui, pela janela, naquele abraço, naquela dança
densa, tensa, tenra:
Palavras soltas em sua boca seca
Pele quente em seu colo indeciso
Barro sedento em suas mãos inseguras.
BARULHENTA NOITE PRETA

Noite passada eu consegui misturar gripe, cólica e pesadelo de uma vez.

Um assalto liderado por alguém próximo. Uma gangue enorme, armada até os dentes, saqueando a empresa de um tio meu. Pelo menos a tal empresa nem existe! Toda minha família correndo risco de vida. Só sei que acordei chorando e a gripe travou o sistema respiratório, me dando falta de ar; o que provocou uma contração involuntária, piorando a cólica.

Achei que eu ia morrer.

Chá e propólis pra gripe. Bolsa de água quente pra cólica. E pra não ter pesadelo, que é que a gente faz?
DESPEDIDA E OLHOS DE VIDRO

Ontem um avião adentrou as nuvens do céu esverdeado e deu asas a uma coleção de momentos.

Um sorriso engolindo uma lágrima só podem contar com um abraço de adeus indeciso e esperançoso. Quando dois perto-longe conseguem confirmar a antítese dos que têm que conviver com a distância e a saudade.

Meus olhos revelam-se míopes mesmo se límpidos até então. Insistem em olhar pra trás enquanto lutam para remover o pó e desembaçar a imagem observada com os óculos de ver colorido.

E enquanto alça vôo, a memória armazena muitas cores dessa vida louca.
SÁBADO

Havia uma esponja na cabeça espremendo-se silenciosa e forte, expelindo-se por meus olhos úmidos de sal e chuva. Lágrimas sem motivo.
Particípio.

Um subterrâneo túnel escuro atravessado em alta velocidade com flashes de coisa boa, aventura e destino.
Gerúndio.

Altas horas. Bate-papo. Vontade de escrever. Vontade de tomar banho de chuva. Desejo. Cafuné. Encontro.
Substantivo.

Abraço quente perdido no espaço. Lençol, cheiro, sono e tranqüilidade.
Infinitivo.
SUPER HERÓIS

Quem inventou os super-heróis não entendia nada de desejos humanos. Ou sim, ao dar-lhes certos poderes.

Dessa história de não ser o que todos acham que sou, eu só queria o poder de voar.
PÉS CALÇADOS TAMBÉM SONHAM

Caminhava colhendo sementes frias perdidas ao vento. Seus pés escuros de tanta busca sonhavam lavar-se em alívio de encontro. Ele sem saber onde queria chegar.

Os cadarços, amarrando-o ao ginásio de risos perdidos e corredores irônicos, foram esquecidos na cerca do casebre de sinhá Mafalda, onde dormira há alguns dias. Sinhá Mafalda e a maciez de sua acolhida o libertaram dos seus cadarços. Mas ele sonhava com o dia em que iria de chinelo pra casa de seu sonho.

Incharam-se os dedos e a este ponto tirou os sapatos. Sonhava deixá-los em outra cerca de outra casa com outra cama, macia.

Dilatou-se errante no seu sono profundo. revelou-se tonto no seu acordar brusco. Seus pés sentiram as lágrimas e decidiram voltar, doloridos e fracos na poeira quente da estrada efervescente. Queria encontrar sandálias de couro, vestir meias no frio e encontrar outras pegadas.

Caminhava colhendo sementes frias contra o vento, as costas dos seus pés decididos a não olhar pra trás, mesmo sem saber onde podem chegar. Seus cegos pés, escuros de tanta busca.
OS INTERRUPTORES DOS MEUS ATOS

Aperta o anel no dedo
Estaca o sangue
Estaca no peito
Serenatas de dor
Na noite de lua vazia
Milk shake de cansaço

Escuro para ver
Gritos para ouvir
distância para acariciar
Silêncio para conversar
Cama para discutir.

Vida para ficar triste.
Segundos para acender a luz.
Luz.
MEU JEITO DE

Tomar sorvete
Dormir imediatamente
Dormir pouco
Dormir muito
Cantar sozinha
Cantar acompanhada
Cantar o tempo todo
"A beleza de ser um eterno aprendiz"
Chorar no ombro
Chorar no travesseiro
Sorrir em silêncio
Rir de meia boca
Gargalhar em bom tom
Me indignar com injustiça
Calar menos do que gostaria
Falar mais do que o necessário
Gostar de papear mesmo
Adorar comunicação
Arte e cultura
Viajar com a família
Viajar com galera
Viajar sozinha
Viajar na cuca
Viajar .
Acreditar pra viver
"Dar a vida pelos amigos"
Dar votade de escrever sem lógica no meio da noite
Sem rima, sem cor, sem rítmica
Simplesmente fazê-lo e publicar
Viver e acreditar
HASTA LA VISTA

Despedida é uma coisa estranha... nos lembra que o tempo passa. A idéia de que não sabemos se amanhã estaremos vivos.

Abraço de despedida é horrível: quanto mais se abraça, maior a saudade. E saudade dói.

Não gosto de despedir-me de mim-fraqueza, porque não sei se amanhã estarei viva. Mas sinto falta de mim-coragem.

Me abraço forte...
NÓS

As entranhas desse saco de sentimentos se confundem com uma cuba de gelo.
Quadrada.
Calculista.
Dura.
Fria.

Uma chama de presente ameaça o sólido de mim.
Tudo que é volátil me alerta ao perigo dos sentimentos disformes.
O gás se molda ao que sou, mas não é palpável.
O líquido é visível, tem cor, expõe e amedronta.

"Pra onde vai uma canção depois do acorde final?"
"Onde vai dar o desamor depois de desatados os nós?"
E onde vão dar os nós depois de desatados os desamores?
PÉ DE OUVIDO
Um tema te persegue tanto que você começa a entrar numa paranóia.
O fato é que, querendo ou não, felizmente vai te provocar uma reflexão.



O tema era sexualidade: primeiro amor, primeiro namoradinho... A lembrança do quanto significou a respiração acidental no pé do ouvido. Pé de ouvido num contexto é cruel. Frio na barriga e nocaute.

Pensando nisso tudo, me vejo em frente à placa da cartomante do beco. Frases feitas a quinze reais. Não. Acredito não. Mas curiosidade sempre foi o meu fraco.
Confesso que cogitei com graça a possibilidade de procurar pela dona, de certo gorda, com vestido coloridíssimo e dentes de ouro, com tudo que a minha liberdade de idealizadora do personagem permite.

Entraria no beco, a me equilibrar pelas poças ora de água, ora de algo mais do que isso.
Perguntaria umas três vezes onde ficava "D. Alzira".
Por fim encontraria a porta entreaberta, cheiro de parede molhada.
Lá estaria ela, sentada num sofá forrado com colcha de franjas na borda, estampado em vermelho e florzinhas amarelas. Sorrindo-não-sorrindo, misturando as cartas de uma mão para a outra sem parar.
Eu tímida, como raro.

- Pode entrar, minha filha. Então? O que a senhorita quer saber?

O que eu quero saber?
Não! Definitivamente não daria certo!
É melhor gastar o dinheiro na praia.

Bom mesmo é constatar que quando eu penso que a vida se foi, ela volta com golpe baixo e me fala algo bem aqui, no pé do meu ouvido.

- Foi engano, D. Alzira. Obrigada!

Valeu pelos cheiros de ervas, as franjas e as estampas, as cartas e os búzios, as cores do beco e a timidez.

Ô Gabriel, você tem razão quando diz que sou uma sapeca apaixonada pela vida.
FELICIDADE BANIDA

O desejo inútil de banir um sentimento não vale tanto quanto a vontade nobre de fazer alguém feliz...
I-MAR-GENS

É como andar na praia:
Pé, areia e pegada.

A pegada é uma terceira coisa
com consistência de um e textura do outro.
Formato e imagem de um
adaptado ao contorno e aderência do outro.

Não é a insistência do pé que me intriga
e sim a delicadeza da pegada
demonstrando passo firme.

É o contraste do vulnerável
com as infinitas possibilidades de renovação.
É a beleza do mar enfurecido
apagando a pegada que parou de andar.

É de parar de andar que tenho medo.

Meus pés estão saindo da areia da praia,
apesar de ainda existirem as últimas pegadas.

Se a maré encher,
amanhã
(depois dessa noite clara)
meus pés tomarão outro rumo;
as pegadas não mais veremos;
e a areia continuará lá, solitária,
lamentando-se o vai e vem das águas atormentadas
transformando em buracos vazios
aquelas pegadas tão bonitas.
SEGREDOS

salto desta melancolia
saio todo dia
sempre buscando
sal da terra e força,
saúde que vem de dentro

samba, rock, forró
salsa, merengue ou valsa
sensações diferentes
sorrisos
soluços

sem deixar de viver
saio, danço e me afogo
sobrevivo
sinto, decido, renasço
supero, canto e espero

são dores que não passam
não saem
não sei
são mistérios e verdades:
saudades
MANHÃ QUE CHORA

Amanheceu chovendo tanto...
Deve ser um disfarce
pra devolver o encanto
pr'esse inexplicável pranto.
CRONO-LÓGICOS

Armadilha de amizade pura
Que perpassa o desejo, estanca
Machuca enquanto abraça
Não cura se um se afasta.

Frio na barriga de gelo por fora
Frio no corpo de fogo por dentro
Implosão de verdades
Explosão de pensamentos.

Você, matemática
Eu, redação.
Você, doce, bárbaro
Eu, decepção.
Você no silêncio
Eu sem intenção.
Você, um carinho
Eu, sim, por que não?
Você a imagem
E eu a canção.
TUDO E NADA TER

Houve um tempo em que andava firme e de mãos abertas. Cada respiro era um impulso novo; cada silêncio, um conforto; cada confusão uma nova festa.

De lá pra cá envelheceu. Esqueceu que os pesares são um presente e as dores são filtros da alma. Trocou a pureza pelo breu da sociedade. Tudo num limite sem asas.

Não cultiva mais as recordações do quanto viver é bom e de como são belos os prados coloridos. Do quanto significa correr sozinho ou sentar em oração.

Buscou-se, rebuscou-se em volta do sol, Deixou que tudo desmoronasse para reerguer-se sobre a rocha e concluir:

Quero casa quente, gente grande que me entenda criança, abraço gostoso que se deixe tocar. voz suave que me escute, beijo macio que me olhe. carinho que desarme. Quero tudo e nada ter, quero a ninguém pertencer. Tudo num limite com asas!
DEPOIS DA TEMPESTADE

O mais grave não era a irritação pelo atraso, mas a obrigação que o engarrafamento lhe dava de perder-se em seus pensamentos.

Uma sensação cruel de Ter negligenciado o ato de refletir. Pensar e sentir estavam mais lado a lado que pensar e raciocinar. Raciocinava quase 24 horas por dia.

Olhava ao seu redor e ria-se em ironia: som ligado, bancos de couro, ponteiro a 20 km/h, óculos escuros pendurados à direita, limpa vidros conferindo irritação ao som ambiente. Raciocinara tanto antes de comprar tudo aquilo...

Lembrou-se da noite em que brigou com a esposa por ela ter-se esquecido de abastecer antes de voltar pra casa; e com seu filho porque estava irritado por terem arranhado seu carro. Começava a perder o direito do seu trono móvel.

Uma buzina e uma reação agressiva.
- O que é, meu irmão!?!?!
Irmão... é assim mesmo, o sadismo faz parte do nosso dia-a-dia.

Tinha perdido a sensibilidade. Estava habituado a ter todas as rédeas da situação. Impulsivo, irracional de tanto raciocinar. Queriam apenas avisá-lo da porta aberta.

Bateu a porta. Incapaz até de fechar uma porta direito. Mudava de estação como quem nada quer ouvir e tudo quer escutar. Apertava botões perdidos como num ritual para que o celular tocasse. Inquieto. Pego de surpresa por desaprender como se pensa. Comprar três metros de dutos, quatro caixas de A4, ligar para a filial de São Bernardo...

Inútil.

Lembrou-se da infância molhada quando chovia, de que não era politicamente incorreto comer goiabas da fazenda do Seu Chico, de quando conheceu o sorriso de Rosa menina...

Como estará Rosa?

***

O telefone cansava de tocar e Rosa, enxugando as mãos, descia as escadas.
- Alô! Respondeu ofegante.
Respirou fundo para não agir como normalmente.
- Rosa?
- Oi.
Não. Inútil não. Chega de portas entreabertas para o mal entendido.
- É... não... Tô ligando só porque... É que na verdade fiquei com saudades...
Há anos o silêncio era sinônimo de constragimento, uma pista em mão dupla de inúteis vazios.

Silêncio. Suspiros. Sorrisos. Ninguém atrapalhando o tráfego.
- Ô Amor...!
- Vou trabalhar hoje não. Daqui a 40 minutos te pego aí em casa!

E riu-se, dessa vez sem ironia. Cantando uma canção à qual queria ouvir. Desligou o celular. Fez um retorno a 20km/h e travou as portas.

Portas fechadas e buzina de fora. Esquecera de olhar no retrovisor. Viu o motorista enfezado e pra ele um sorriso simples molhado de chuva.
SOBREVIDA

Disparar razões sensatas ou libertar emoções?
Tudo errado e tão certo. Tudo incerto e tão indelével.
Umas dessas rosas de inverno, como a da canção que tocou na hora errada.

Paciência existe para pessoas equilibradas. Estou perdendo o meu equilíbrio.
Equilíbrio só existe para pessoas espontâneas. Estou perdendo a delicadeza.
Meu coração ainda pulsa e fere os meus pulmões por todos os lados.
Estou ficando sem ar e o que me excita me fragiliza por completo.

Quase nunca e quase sempre são condições mornas demais pro meu peito em chamas.
Uma burrice pensante. Penso muito por só isso poder fazer.
Na estrada, umas curvas sinuosas e uma rua sem saída.
Uma loucura boba como não poderia deixar de ser...
Minha inconstância é o que me aflige.
Minha certeza é o que me persegue.
Meu desejo é o que me tranca.
Sou capaz de decidir deletá-lo para que você abra suas portas.
Ele finge que se foi. Eu simplesmente finjo.
Nada mais fácil do que deixar-se adestrar:
Não se morre de fome, nem de sede, nem de falta de carinho.
Não se mata por violência ou impulso fervente.
Não se vive de verdade.
Mas eu te quero vivo,
sem fingimento ou portas trancadas.

Por enquanto me recupero sobrevivente.
CHEGA DE ENSAIOS

Que eu aprenda a ir
Mesmo se quero ficar
Que eu consiga encontrar
Sem ter que acariciar
Que o meu olhar não entregue
O que a minha mente pensar
Que eu agüente em meus ombros
Todo esse louco pesar
Que você realmente se esqueça
Quando de mim se afastar
Que a paz nunca me deixe
Mesmo se eu a ela deixar.

Que eu possa tudo apagar
Quando essa chama acender
Que eu nem esteja lá
Se acaso cê se render
Que minha força não falte
Se um dia eu falecer
Que o amor não se afaste
E possa me socorrer
Que eu nunca mais me esqueça
Que tenho é que te esquecer.

Que eu largue a peteca
Para ver ela cair
Que os meus pés só me levem
Aonde eu precise ir
Que toda essa noite louca
Se vá pr'o sol sair
Que com esses feios versos
Eu passe a nada sentir.
SEIVA

Era madeira verde, que insistia em querer ser brasa e só podia ser clorofila fresca e sedenta, cheia de seiva. Não conhecia os espelhos, mas cada gota de orvalho refletia uma faceta de si e o despedaçava em mil focos de sede.

Suas veias verdes são fortes e por isso não se protegem do vento. Ao contrário, se entregam à ventania desértica e sorrateira. Talvez isso atraia suas folhas secas.

Por mais verdejante que seja, mais dia, menos dia folhas suas colorirão o ar e darão sentido ao ciclo da vida, em outros alicerces. Um dia, quando deixar de ser verde e morto estiver, será útil para aquecer até mesmo os que nunca o regaram com carinho.
I'M A MIXER

I need a lid to make it stop raining on me
To make it easier to let it be
To protect myself from extra desire
To let my feelings stay quiet inside.
SEI NÃO SEI

Sua insegurança e nosso medo
Seus fantasmas e nossa dúvida
Seus olhos e nossas lágrimas
Seu suspiro e nosso sorriso
Seu tempo e nosso fim.

O fato é que já nem sei
Se gosto ou se gostei...
ABRIGOS FRATERNOS

Vou desdizer o que sou, o que fui sem saber.
O que hoje lamento não mais poder ter.
O que sinto aqui dentro, desatado ou implacável.

Vou sair por aí, deletando mensagens encaminhadas e frases feitas.
Resgatando olhares puros e fases perfeitas.
Questionando injustiças e desfeitas.

Vou voltar pro meu lar.
Pros abrigos fraternos que a mim se abrem.
Pros colos sinceros que me cedem.

Vou voar. Não vou mais falar.

Vou colocar a minha liberdade de expressão em garrafas de vidro.
Contraditória transparência.
Vou contar tudo isso pras ondas do mar.
MUSICANDO

Mexe comigo. As notas, as melodias, as letras que vão e vêm massageando tudo por dentro e relaxando tudo por fora. A música! Tão matemática e subjetiva; tão minha e nada pertencente.

Explode, chora, sorri e pergunta; espera, corre, grita e responde; reflete, brilha, fecha e diz; apaga, ama, abre e cala. Completude e revelação. Entorpecente. Eu, se não fosse ser humano, certamente seria uma nota musical.
PÉTALAS A LIMPO
para aquele casal da Praça da Sé

Vira o jogo
Despetala, ofende
Bem-se-quer
Mal-se-entende
ÉS

A saudade sentida
Se faz sem sentido:
Sem selar com abraço
Sem soar no ouvido.

Sem subir sorrateira
Sem secar-se as lágrimas
Sem sumir por segundos
Sem revelar-se as mágoas.

Nem sempre saber
Se sós ou se seremos
A salvo saberemos
Se é insano esse sofrer.

Se sonho ou sugestão
Se cegueira ou solidão
Se satirizas ou sirvo segura
Se sentes ou sofro censura.

Sem quê nem pra quê
Seguimos simplesmente
Nosso segredo semi-breve
Não se faz suficiente...
MEXICANOS
para ele e ela que complicam

Mente sã, corpo firme
alma em paz e coração cansado.
O absurdo é o meu arado.
Ei, se conseguir me esquecer, me avisa!

Me ensina a jogar no seu bilhar
A esquecer do seu olhar
A fingir que não é comigo
A abraçar e partir
A esconder o que sentir.

Chegar e ficar já passou da hora
Gostar por gostar só se for agora
Viver por viver se quiser vambora
Sofrer por sofrer, tô caindo fora.

Quando pode não faz
Quando quer é incapaz
Quando pensa não diz...
Só confirma se distante
Conseguiu ser feliz.
O AMOR E O TEMPO

Seu Pietro é uma dessas pessoas iluminadas que cruzam o seu caminho e você não sabe porquê. Ele e sua gravata encardida eram puro contraste. Um sorriso de 2 anos de idade num olhar sábio de seus 72.

Ao perguntar-lhe as horas, percebi que ali encontrava-se um infinito de sabedoria, incutida de tristeza. Uma vontade de sorrir e seus lábios chorosos se confundiam com a leve voz: "doze e trinta e oito". Agradeci, mas alguma coisa me intrigava naquele conjunto de sensações enrugadas.

Eu lia em italiano, quando fui interpelada pela mesma voz intrigante. Suas mãos trêmulas tocavam as minhas, falando muito mais que os seus lábios finos: "parli italiano?".

E assim fomos os dois, eu e seu Pietro, divagando sobre o meu italiano meia boca e o seu passado toscano. Hoje seu Pietro recebera a notícia da morte do seu irmão mais novo. Chorava ao me contar histórias de quando eram jovens. Eu, conhecendo a sua história, revisava a minha. "O tempo só é justo conosco se somos transparentes com ele", me disse.

Não entendi logo. Então me contou como se sentia indigno de estar vivo, enquanto seu irmão se foi. Tinha escrito uma carta, pedindo perdão a seu Pietro, que até então recusava-se a responder. Desceu do ônibus sem me contar detalhes: "o amor, filha minha... também o amor existe, mas não funciona se não o vivemos de maneira transparente".

E partiu. Seu Pietro, o tempo e o amor pelo seu irmão. E ficamos. Eu, o tempo e o amor por seu Pietro. Concluí que emoção e razão existem para que o amor e o tempo se completem. Mesmo que eu não os entenda! Ainda assim, mais vale a lágrima no papel amarelado...
PARA ESCREVER NAS NUVENS

Conhecer o limite da fenda de sua tristeza, juntar toda luz que você precisa num feixe de meu sorriso e te iluminar por inteiro numa felicidade neon.
E VOCÊ, NÃO VAI ESCREVER A SUA HISTÓRIA?

D. Rita e sua família me conquistaram não pela simplicidade do seu barraco superlotado, mas pela simplicidade da confiança que temos uns nos outros.

Conheci D. Rita através da sua filha, Martinha, que fazia parte das pessoas com quem trabalhávamos num projeto social. Quando rolavam pecinhas de teatro ou rodas de capoeira, Martinha era um show à parte para toda a comunidade.

Encontrei Martinha por acaso numa tarde chuvosa. Ela, agora uma mulher trabalhadeira, revelava que estava sustentando a mãe e os outros três irmãos sozinha.

- Três irmãos, Martinha? Não eram quatro?
- Pois é... Um irmão meu saiu de casa.

Fui visitá-los 6h da manhã - o único horário que encontrei livre pra conversar um pouquinho com D. Rita.

- Dormindo tia Rita?
- Que dormindo, minha filha?
- Acorda cedão, né?
- Ô Manu, acordo do pesadelo quando durmo...

E me contou que tinham visto Jonas na invasão do Clube Português. Fomos até lá procurar Jonas. Um prédio abandonado que virou moradia de dezenas de famílias sem teto. De fato passara por lá, mas já tinha partido há alguns dias. Não se sabe o paradeiro.

Tia Rita insistia que com certeza Jonas estava entregue às drogas todo esse tempo. Conversei com Martinha e em seguida partiram as duas com os três reais que as dei pra voltarem pra casa.

Ontem Martinha me ligou para que eu me despedisse de tia Rita. Jonas estivera no interior, ajustando-se em um emprego na zona rural e arrumando um casebre para a mãe e seus irmãos.

E aqui eu apresento a página branca.
INEXPLICÁVEL

Paz às escuras me abrem as pupilas
Asas que te levam me acenam tranquilas
Seu adeus em forma de tchau
Seu bem me faz bem ainda que me faça mal.

Resgate da pureza que um dia me coube
Sem saber pr'onde foi ou sequer o que houve
Escondida, à espreita, revelada num abraço
Tudo isso é pequeno pra soltar nosso laço.

Porque te quero leve e não vulnerável
Porque te quero ao lado e não amarrado.
Melhor sorrir distante que triste por perto
Tudo sem sentido e fascinante e aberto.
AWAY

Oh, but I'm so blue
My heart is beating and cold
I'm waiting for things to happen
Mine is so tired soul

And you, the whole world around
Stop bleeding the faces below
Just trying to drive me nuts
I'm right here, standing though
DESPEDAÇADA

Este braço fraco que a dúvida embala
Essa boca seca que, sedenta, não cala
Estas mãos suadas que procuram no tato
Estas pernas frágeis que não tremem, desabam.
Este olhar cansado de ressaca sutil
Esta pele amarga, suada e febril
Este corpo rude que insiste em crescer
Não se cabe no oco, osso de roer.
Minha alma amassada se perde em lembrança
Se esconde no canto, se finge criança
Minha alma jogada, esquecida de si
Se pergunta se um dia poderá sair.
HARMONIÓCIO

Temas soltos esperando ser escritos:

Kronos ou kairós: o que sabemos sobre o início e o fim das nossas histórias?
Fotografias também machucam.
O desfecho das amizades coloridas.
O hormônio cortisol e suas implicações no meu corpo (eu hein!).
Para que mais servem meus lábios?
Liberdade é um conceito muito mais profundo.
O que meu piano diria de mim?
Algum espião de minha vida escreveu esta canção.
...

Com tantas idéias entrelaçadas e conclusões abstratas, precisava terminar esta faxina urgentemente, por amor aos que convivem comigo.
A VERDADE TEM COR

O sangue que corre nas veias, lento, não é o mesmo que encharca os pensamentos dispersos. Cantar e contar sobre a vida tornaram-se obrigações desprovidas de naturalidade.

A alma sedenta e faminta estava perdida em um desses dias azuis que o cansaço pinta. Os pincéis são tão duros que não aderem à tinta. Unhas vermelhas, sombra da cor dos olhos, blusa rubra sem cinta.

À noite, um presente de meus irmãos de sangue: companhia de risos azuis que salvaram o dia e fizeram a minha face implorar verdades. A alma se colore ao devorar tomates secos e um cálice seco.

- Você precisa sair desse paradoxo. Disse a voz doce em meio a eufemismos e metáforas. Quase não consegui engolir, mas minhas mãos de unhas escuras levavam o chopp de vinho à boca vermelha. Uma pausa sem cor e o olhar perdido na imensidão cor de sangue.

Três olhares cúmplices se abrem numa gargalhada azul com gosto de sobremesa. Cereja doce na madrugada e um abraço tinto de boa noite. Os olhos vermelhos, cansados de se perder, encontram um cais na escuridão dos cílios cerrados.
A MONTANHA RUSSA E O TEMPO

Acordou inchada, no impulso do compromisso. Enquanto lá fora adolescentes passeavam de biquíni ou jovens descansavam da farra, largava-se no banheiro frio sob a água morna. Fazia um dia lindo, mas nem conseguira contemplar a cor do sol.

Ao espelho, vestida como se fosse ver a rua, fez uma oração. Parece que estava adivinhando que uma manhã sem fim começava a se desfazer.

Foi se perdendo entre as dúvidas e o cansaço. Tinha que dominar-se nos detalhes, nas correções e no insuportável computador. Não se conteve e abriu um sorriso interesseiro, ironizando as coisas ainda por fazer. "Você não vai me vencer, tempo" bradou, inocente da sua falência.

Ela continuava montando um quebra-cabeça ora com sentido, ora sem encaixe. Mesmo assim as pessoas iam e vinham. "Você não vai me vencer, tempo?"

Até que não aguentou e entregou os pontos: "O que faço?", "como faço?", "por que tem que fazer?"... tinha que responder a todas as perguntas, mesmo se não tinha respostas para si. Dor de cabeça, estresse, uma multa inesperada e injusta. Saudade. Fim de semana ou fim de mundo?

Ao meio-dia queria almoçar logo para poder dizer que a manhã acabou, mas todas aquelas ligações atribuladas não a deixavam engolir direito. Por isso que resolveu dormir minutos milagrosos de paz.

Não era desejo de suicídio, mas bem que aquela sensação poderia durar para sempre. Conversou com o despertador e se deu conta que se relacionava mais com as máquinas do que com os seres humanos. Chorou por dentro até se convencer que precisava esvaziar-se para sorrir. Foi aí que todos os parágrafos anteriores foram se transformando em lágrimas duras.

Percebeu, finalmente, a beleza do dia e o reflexo na janela. Até a saudade ficou leve, mas parecia não correspondida. Estava numa montanha russa.

Cansada, cerrou sua saudade e travou-se mais uma vez. Reescolheu a solidão na esperança inútil de controlar o sofrimento. Não era desistência, era a única coisa a fazer para que a saudade traiçoeira se dissipasse no tempo.

"Você me venceu, tempo". Mas ela sempre sorri.






REVEILLON EM ARACAJU
"Que a atitude de recomeçar é todo dia, toda hora"

Mesmo se a Champagne resolveu estourar uns dois minutos antes (e adivinha na mão de quem ela estava?), pra tudo nessa vida dá-se um jeito. Tampa-se novamente a garrafa e da próxima será mais emocionante ainda. No tempo certo. Com direito a espuma, barulho gostoso, fogos no céu e gritaria de gente cheia de alívio e esperança. Acho que viver é isso: estourar a champagne na hora certa, com as pessoas certas, com clima e disposição, respeitando o curso da vida que não depende só de você, ainda que a garrafa esteja na sua mão.

Parecia que tudo estava perdido, rostos decepcionados, garrafa aberta com cara de ironia, gente que corre, que conta, que grita no microfone... e nós ali, fingindo bom-humor com o acontecido. Foi engraçado sim, mas normalmente não conseguimos unir humor a coisa séria.

Um suspiro, troca de olhares e uma iniciativa mudaram o curso da noite! "Vamos estourar de novo!!!". Procura-se... procura-se... oito pessoinhas a procura da - "Achei!"- tampa da garrafa. Pronto. Não existe mais quem diga que recomeçar é impossível. A bebida continuava lá, a emoção do momento voltou completa pra dentro da garrafa, aguardando a reprise máxima de sua alegria satisfeita duplamente. Sorrisos voltam aos corações e a ironia fora embora.

Vida. Ainda que não achássemos a tampa, a beberíamos. Sem a festa, mas com festa. Mas, ah! procurar a tampa por entre pernas que vêm e vão dá trabalho, adrenalina pura pela ansiedade de encontrá-la antes que aquele precioso e único minuto passe e todos gritem e o céu de Aracaju se abra em luzes. Mas a alegria de saber que se tenta, junto, cada um pra um lado com seus próprios objetivos aparentemente iguais. Para mim a tampa da garrafa era redenção, para outro esperança, para outro ainda milagre!
Tampas, oito tampas na garrafa do momento. E como voava...
MACABÉA

Saudades do tempo em que a musiquinha era o principal da roda. A bola podia ser de meia ou de "pedrinha miudinha". Leve, explodia ludicamente na mão de alguém. Hoje o jogo virou tragédia. A bola é um fardo quente nas costas, uma bomba-relógio. Ninguém canta, só contabiliza procurando trapacear para que a bola não caia nas próprias mãos. Quantas vezes tentara dar um sumiço na pedrinha. Mas todos eram saudavelmente espertos.

Hoje me perco na tentativa inútil de descobrir onde foi parar um pedregulho que seja. Sempre conseguem transfigurá-lo da maneira mais esdrúxula. São como dispositivos místicos prontos pra explodir no seu bolso. A onda agora é bola de cristal.

Abra-te sésamo e faça com que essa bola (des)apareça.
Abracadabra e faça a bola parar em alguma mão.
Espelho, espelho meu, terei de volta o dinheiro que era meu?

E me lembro de meus amigos. Ok! bola de meia, de cristal, musiquinha a girar na roda. Ainda tem muita gente boa nesse mundo. E estão aqui, estrategicamente pertinho de mim, como “pedrinha miudinha” no meu tempo de criança...
RESTARTING OVER AND OVER...

Noites inúteis, mentiras.
Maquiagem em vão.
Frios apertos de mão.
Mentira fingindo verdade.
Solidão.
Saudades de pés no chão,
discos, livros, saudação.
Vida em versos brancos.
Grito imitando canção.
Falsidade de um para o mesmo.
Hipocrisia. Visão.
Sentidos. Cinco, quatro...
Sol que se põe para sempre.
Dia no céu da serpente.
Cantiga de trovador.
Esquecimento. Pavor.
Pesadelo de olhos abertos.
Céu cinza, vento disperso.
Calmaria na tempestade.
Brisa de paradoxos.
Mentira fingindo verdade.
Verdade matando mentira.
Sentidos. Quatro, cinco...
Sentidos a mil, mais de mil.
Abraços de todas as formas.
Carinhos de frases abertas.
Vida esclarecendo paixões
Em versos, rimas, canções.
Falsidade de escanteio.
O outro lado do espelho.
Vidas em redondilhas.
Início do início do fim.
Ilustração de cartilha.
Enfim,
Sutileza. Clareza.
Maquiagem útil de beleza.
Inutilidade em questão.
O acaso é acaso não.
NOVELA É MUITO MELHOR NA VIDA REAL

Andar de ônibus é um laboratório. Pesquisas e criação de personagens. É uma delícia... Um tique-nervoso, um grito, a bolsa colorida ou a queda... vida, muita vida cíclica que fala, lê, pensa. Além do encantamento proporcionado pelo outro lado da janela! Conheci muitas cidades assim, entrando num e só saindo no fim de linha. Depois pega outro no sentido contrário e nunca se volta pro mesmo lugar, assim como não se volta pro mesmo rio...

Foi assim em Frankfurt, quando a menina de sainha de pregas, gravatinha e camisa suja de caneta estourada olhava o nada. Subiu cabisbaixa. Tinha a impressão de ver um nó lá no seu pescoço. Entrei nesse ônibus por acaso - na verdade não era ônibus, era TRAM, esses bondinhos que andam nos trilhos. Isso que me dava mais segurança, já que me lembrar os pontos de referência em alemão ficaria um pouco difícil. Era simples. Entra, vai até o fim, depois volta.

Alguns pontos e a protagonista da vez desce a procurar, a olhar o relógio, a abaixar a cabeça e agir como quem disfarça uma desilusão eterna. Eu bem que tentara encontrar um outro personagem à altura, mas a figura delicada e misteriosa não saía de minha mente. E entre me perder nos funcionários da prefeitura que enfeitavam as ruas para o Natal e nas lâmpadas queimadas na íris acinzentada da estudante, eu divagava...

O motorista me olhou com cara de interrogação quando cheguei no "fim de linha" e simplesmente aguardei o seu retorno. Era a sem destino! Sem destino, não. Meu destino era aquele, mas já tava na minha hora de voltar... Voltemos então, "falou" por sobre os ombros... E continuou o meu filme: era ela! o mesmo uniforme, o mesmo caderno com uma foto de não-sei-quem, o mesmo olhar. Dessa vez ela ouvia! ouvia um jovem negro, magro, olhar desesperado. Parecia se explicar pela quantidade de gestos exagerados e direcionados. Ela ouvia! Eu só via... Queria ouvir... Não pensei duas vezes.

Ouvir uma trágica poesia alemã recitada em dueto. Casais e suas quase inevitáveis brigas insignificantes têm uma linguagem padrão, universal. Ele se foi, chorando. Ela ficou, chorando. Eu quase chorando junto. Já não dava mais pra me esconder por trás dos óculos escuros. Tirei os óculos e (coincidentemente?) olhares se encontram. Susto. Fuga. Sorrisos. TRAM. Entrada. Adeus. A mudez como abismo - ou ponte - entre idiomas. O outro lado da janela não existe mais. Ou só ele que existe... Segue seu rumo que o outro chora suas lágrimas do outro lado do mundo.
CALO

Quando uma pessoa, num desabafo, diz que terá paciência com você é o indício de um calo começando a incidir na curvatura do sapato. Ocorre que curativo nenhum resolve nesse caso. Só sapato velho. No shopping do dia-a-dia, pode-se encontrar sapatos novos tão ou mais confortáveis, mas custam caro.

Após a certeza de que cola nenhuma restitui o passado, vamos à procura de um All Star azul que combine com meu preto de cano alto... Um sapato versátil, que tenha salto macio e abraço anatômico. Que sirva de sapatilha nas horas vagas. Que entenda momentos em que se quer ficar descalço, sentindo a vibração da mãe terra e o vento na sola...

Mas enquanto eu não souber me equilibrar descalça, não vale a pena depender de sapatos, porque eles ora nos equilibram, ora provocam um passo em falso; podem ser lindos, porém desconfortáveis; apóiam, mas não trazem felicidade. Têm vida própria e caminham até você. Desfilam desesperados na esperança de serem observados. Querem ser sapatinho de cristal, que como num passe de mágica transforma sonho em realidade. Mas não quero mais encantos que acabam no badalar de um novo dia.

Quero no mínimo encantos imprevisíveis e surpreendentes, que começam com baile sem saber que a meia-noite está pra chegar. O final feliz é final (que se dane). Quero uma fada que nos calce num conto real. E não só até a meia-noite...
01.02 - DIA DO PUBLICITÁRIO

Não sei bem o que isso significa, mas prefiro fingir que quer dizer alguma coisa... Talvez um fio de esperança: emprego para todos nós, futuros manipuladores desse bizarre opinion robot. Talvez a oportunidade de refletir sobre os rumos que essa profissão possa ter, seu papel na sociedade ou até mesmo o papel que adotamos para ela, para nós...

Hoje é o dia do que talvez eu nunca seja. Meus cúmplices São testemunha de quão cruel é a liberdade advinda dos estudos dessa joça. Os nós na cuca por pensar em ser artista, produtor e até arriscar uns lançamentos de livros; professores, empresários, consultores de marketing, concursados... Fora a árdua peregrinação psicológica entre todos os setores de uma agência. Faz-se inevitável fantasiar imaginários 1ºs de fevereiro no futuro. Canudo na mão, sonhos mornos, lembrança saudosas desses dias corridos e certamente leves. Ou então sonhos em andamento, lembranças desses dias leves e seguramente corridos. Ou ainda... humpf! Dá pra saber não.

Mercadinho de bairro esse nosso... Exportara grandes Nizans e Dudas da vida. Esse pretérito que mata! Revitalizar o mercadinho, fazer uma consultoria de marketing, elaborar estratégias, planejar bem enquanto é tempo... Será? Ah! e fazer uma limpezinha, porque todo mercadinho que se preza tem um depósito imundo, cheio de roedores inoportunos.
FEVEREIRO É SÓ MEU

Três noites de festa e fins de manhã regados a cochilos com suspiros de satisfação.
Pulos intermináveis, cantos e cantadas, encantos e enrascadas na multidão.
Mãos e pés sobrepostos, ombros em desalinho.

Folia de alegria: camarote, bloco, gente, zum zum baba, coqueiro, poeira, afoxé.
Filhos de Gandhy é lindo de se ver, embora eu tenha tido a impressão de ser a única que recusava uma troca prostituta de guias de Oxum por beijos sem sentido (aqueles personagens em branco e azul se acham os reis da avenida. Por favor!).

Hormônios à flor da pele e curtição ao meu jeito, o carnaval vai tomando forma e se "apoderando" das pessoas. Quando elas se dão conta, já nem sentem mais sono. Oito, doze, quinze, vinte horas sem parar. Três de sono. Mesmo pique amanhã e depois e depois ainda.
Espírito de folião faz com que camarotes só sirvam para sentadinhas absolutamente esporádicas. E Pipoca é uma delícia por lá...

Alvorada com Timbalada é tudo de bom. Trio alternativo na Barra-Ondina é muito legal! Rock também. Sol nascendo com Cordel do Fogo Encantado a aquecer os ouvidos, ao passo que o sol saía aquecendo as maçãs já avermelhadas da praia frequentada há poucas horas...

Ao contrário do que muita gente pensa, esses momentinhos são como brisa, um sussurro da certeza de que Deus existe...

Meu doce fevereiro começou com luau e terminou com carnaval. Agora voltemos à vida real.
TEMPO E MAGIA

Procura-se um relógio mágico que indique a hora de falar e fazer. Que não desperte às 4 e meia da manhã de segunda. Que páre hoje e só continue quando eu voltar de onde der na telha. Que congele estados de espírito. Que me leve onde quer que eu queira em frações de segundos. Que...

Ah! Quero a magia, o relógio fica pra o passado de Taylor e o futuro de Gates!

Tenho desejado cada coisa... Até o dia em que eu desejar descobrir de uma vez por todas se o homem pisou realmente na lua!
UN’ALTRA VOLTA

Ed io che ho pensato di capirci,
pensarci mai più,
mangiare la torta di buio
che non aspettavo
caminare per la brezza
che m'ha regalato il sole
sognare
la passeggiata degli innamorati.

Eppure me ne sono dimenticata
di chiederti: non tornare più
di sentire nuove robe
emozioni
pelli
cuori...
mi dimentico e poi
guarda tu chiamandomi un'altra volta.
CHAPLIN SEM BENGALA

Eu vim decidida a falar de Antônio Nóbrega.

Cenário rústico perfeito, figurino em unidade, repertório inusitado, performance inenarrável, integração musical, teatral, corporal, apaixonante.

Hoje a estrela foi de lua: o personagem Toinho, com seu show Lunário Perpétuo. Essa lua que sempre regeu os atos, as histórias e os sonhos dos sertanejos...

Reunindo o que de melhor há na cultura brasileira, o multi-artista consegue ser completo: ator, cantor, dançarino, domador de violinos, violas, bandolins, percussão, sorrisos... Não podia ser diferente para alguém que nasceu de um homem-mulher-barbada com uma trapezista em pleno picadeiro. E em Pernambuco!

Eu vim decidida a falar de Antônio Nóbrega e diria, ousadamente: é o Charles Chaplin brasileiro!
MIL PAUSAS E DE VOLTA PRA CASA

Eu tenho uma casa. Minha casa-internet é um labirinto, vizinho do de Teseu, com linhas imaginárias e linhas-guias infinitas. Um risco, um rio de ondas, navegável e perigoso. Me perco em minha casa. Me encontro nela. Me vejo aqui e na Dinamarca. Me surpreendo nas ilhas sicilianas. Viajo pra longe.

Minha home me tira a vida real, minha page reescreve minha história, registra minhas expressões mais superficiais, posta minhas emoções, confidencia-me em blogs... "Comentem! comentem!": apelos insistem em permear-nos todos, vizinhos corriqueiros sem férias, churrasco ou praia...

Eu tenho uma casa dentro da minha Casa. Navegar é preciso? Minha home tem sabiá o qual nem posso tocar. Meu pinho tem sabiá de cordas pra se tocar. Eu quero férias da minha casa.

Minha terra sou eu que ando descalça, que grito ao redor, que abraço meus pais, que vou ao cinema, que canto pra ninguém, que canto pra muitos, que curto minhas férias, que danço forró, que pulso, que pulo, que pego impulso... Num tum tum de palavras que não conhece pra onde vão. Num pulsar de segundos que voam aqui dentro. Num decisivo compasso que me deixa viciada.

Viciada em viver, vou dar um tempo. Quando me sentir mais real do que a sanfona, o triângulo e a zabumba volto a postar aqui. Férias da home......page!
BACK!

Meus parâmetros de realidade são ilimitados. Amizades são as claves que determinam a minha melodia. A internet me impede de estar tão longe deles. Descobri que não. Isso aqui me ajuda a ser real.

A propósito, sexta-feira vi um homem digitando num laptop, uma mulher falando ardentemente ao celular e um casal passeando de mãos dadas. Cá pra nós... preferir a virtualidade é impossível. Tecnologia é um acessório, uma pausa na partitura, uma vírgula no período longo da vida.

Nada melhor como a conclusão de um espetacular fim de semana para voltar aos anexos da nossa origem chamados adjuntos tecnológicos. Aos que reclamaram pelo retorno delongado: eu disse mil compassos, figurativamente mil. Mas o retorno não substituirá as pausas quando me ocorrer...
EU ME DIVIRTO

A lei é ter jogo de cintura para sorrir sempre!

6h00 - despertadoooooooooor
7h00 – tira o carro da garagem (a agenda dele é concorrida e preciosa - você vai entender porquê)
7h30 - primeira missão!
8h30 - encaminha-se à segunda missão quando...

- Alô??
- Filha? Sabe o q é, é q vou precisar do carro urgente. Você pode me trazer ele aqui?
- Ai mãe! não acredito.
- Você tá precisando muito né?
- Não mãe. Tenho só uma reunião daqui a pouco num lugar a 15 minutos ou 1 hora daqui, a depender do meio de transporte. Considerando que se for o terrível terei que, inevitavelmente pegar dois.
- hum...
- Depois tenho que ir na missão 4, que na verdade é um coletivo de várias missões chatas, cheinhas de filas e burocracias, sabe? Se for no terrível, hum... também vai dar tudo "certinho".
- ...
- e então?
- É, tem jeito não... já vi que vai ter que ser o terrível...
- Puta que pariiiu, maiiiinha! Você me avisa agoooora!?!

Resumo do meu dia? Nem queira saber.
Terrível de volta pra casa às 22h30. Lotadaço! Em pé eu não aguent.. Vou ficar aqui, sentadinha... no batente do chão!

Resultado do meu dia?
Ouvindo música e sorrindo por dentro porque eu, nessa porcaria de sistema que nunca favorece a vida dos reles mortais, eu acabo decidindo pelo melhor: EU ME DIVIRTO!
UM BUIACO NO CUMBE

As estórias do Buraco do Vento no sertão baiano são tantas quantas as suas "centenas de trilhas e caminhos sem fim". O certo é que quem desce no Buraco do Vento provavelmente não volta nunca mais. Era, nas lendas que escutara outrora, lugar meio místico, meio agressivo. Havia quem dissesse que saía no Japão tal buraco (!).

Os anos se passaram e não mais ouvi falar. Lendas adultas são todas iguais, vêm e vão e não se fala mais nelas... Aquelas infantis não, duram pra sempre!


Pois questionamo-nos ora:
Semana passada, no Cumbe (apelido para a cidade de Euclides da Cunha-BA), “apareceu” um buraco...

No quintal da casa de Dona Lula, o buraco de uns 4m de diâmetro, escuro e misterioso tem mais de 25 metros de profundidade.

Corre, chama, puxa-estica, imprensa, fotógrafo, curiosos e lunáticos fazem com que a notícia chegue até a capitarrrr. Rolou, virou e a Federal da Bahia resolveu mandar alguns de seus geólogos para estudar a situação. Corpo de Bombeiros, estudiosos, especialistas, pesquisadores nacionais... Todos em busca do mistério.

Entrada: 4m de diâmetro. Começa a descida e...??? abre-se uma cratera ainda maior. Desce, desce e...? Mais adiante uma outra alargada no bendito. O que acontece mais duas vezes. TEMOS UMA CRATERA-CAVERNA embaixo da nossa cidade!!!!! 15m de diâmetro por 30 de profundidade!

E mais: o Educandário Oliveira Brito, maior escola da região, ao fundo da casa de D. Lula, está com chão todo rachado e oco. Perfurações revelam: apenas 40cm de chão e logo depois??? CRATEEEEERAAAAAA!!!!!

E eu acho que a lenda é que tinha razão
Estória real, fato do sertão
Pode ser caverna, Buraco de Vento
Que há de findar pra lá do Japão.
PEÇAS ENCAIXADAS

"No mundo se vive apenas uma dimensão da vida: a que passa pelo estômago e os sentidos. Como se o homem fosse feito de peças encaixadas" - Igino Giordani

Como se fosse possível viver sozinhos ou a dois.
Como se a nave fosse chegar intacta no planeta vermelho, em sete anos de viagem.
Como se o submarino do século XXI fosse ser engolido pela baleia de Salomão.
Como se a lua deixasse de existir quando as nuvens tomam conta do céu.

Como se eu precisasse me referir a todas essas notícias 'sem nexo' para que as peças inexistentes se encaixassem como num passe de mágica. Como se eu quisesse ser feita de peças...

Mas é essa a sensação que se tem quando não se pode mais viver livremente, por inteiro, cada pedacinho! Eu cá estou, feita de dúvidas e sorrisos. Uma única peça em unidade com os sentidos; todos encaixados!