LOVE SONG

Entre um acorde e outro ela se enroscava cada vez mais. O tom grave de sua voz não mais cedia ao timbre das lamacentas canções. Tudo era terra e suor. Som e cerveja. Frio e abraço. Pensamentos e línguas.

Quando finalmente as cordas se encontraram eles puderam cantar uma bela seqüência. Numa afinação imprópria rabiscada na resma envelhecida. Tinha guardado aquelas folhas como quem guarda um tesouro. E o era. Um pergaminho às traças, como o seu coração.

Até que um dia o dragão retornou das cinzas e a rejuvenesceu com um simples olhar. E a embebedou com um simples beijo. E a possuiu com o fogo de suas ventas. Uma descoberta melodiosa de que esses dragões têm um talento extra, além daquele de ressoar como flautas mágicas: eles abduzem.

Numa hipnose inexplicável (por que se tem que explicar tudo?) ela inconscientemente sabia estar indo para o seu disco voador. Era a terça-feira com cara de sexta e gosto de sábado à noite. Era a tarde sutil com sabores bemóis. Era o inesperado mais esperado nos últimos tempos.

Então resolveu entrar na brincadeira e finalmente misturar desenho animado com conto de fadas; agora se derretia por um dragão desfalecido e se entregava a um príncipe azul.

Perderam-se nos caminhos subjetivos da partitura...

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