PÉS CALÇADOS TAMBÉM SONHAM

Caminhava colhendo sementes frias perdidas ao vento. Seus pés escuros de tanta busca sonhavam lavar-se em alívio de encontro. Ele sem saber onde queria chegar.

Os cadarços, amarrando-o ao ginásio de risos perdidos e corredores irônicos, foram esquecidos na cerca do casebre de sinhá Mafalda, onde dormira há alguns dias. Sinhá Mafalda e a maciez de sua acolhida o libertaram dos seus cadarços. Mas ele sonhava com o dia em que iria de chinelo pra casa de seu sonho.

Incharam-se os dedos e a este ponto tirou os sapatos. Sonhava deixá-los em outra cerca de outra casa com outra cama, macia.

Dilatou-se errante no seu sono profundo. revelou-se tonto no seu acordar brusco. Seus pés sentiram as lágrimas e decidiram voltar, doloridos e fracos na poeira quente da estrada efervescente. Queria encontrar sandálias de couro, vestir meias no frio e encontrar outras pegadas.

Caminhava colhendo sementes frias contra o vento, as costas dos seus pés decididos a não olhar pra trás, mesmo sem saber onde podem chegar. Seus cegos pés, escuros de tanta busca.

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