CANETAS DO MUNDO

Ter que escrever em paz mesmo se a única caneta disponível é aquela que estoura no bolso, numa tarde de verão, quase estragando a melhor calça jeans. Um lapso de descrença em todas as canetas do mundo.

O caderno em branco apertado no peito, esperando pela caneta dos sonhos. A bolsa cheia de outras canetas nulas implorando utilidade. A mão vazia, num abraço apoético, à espera da próxima caneta dourada em sincronia perfeita com o soneto incompleto; que dê sentido à música guardada na memória e preencha o caderno em branco e seu abraço solitário (numa gélida noite de inverno).

Ter que escrever em paz mesmo se a caneta disponível é aquela que, quando você menos espera, estoura no bolso, numa tarde de verão, quase estragando o melhor tecido cardiológico. Um lapso.

A culpada não é a caneta, mas você, que a colocou na posição errada, no lugar errado, talvez até mesmo no dia errado. E quando a mãe me avisou pra esperar o tempo certo de escrever minhas fábulas, eu quis escrever sonetos. E me restou a tentativa, sem palavras completas. Um soneto com meio verso borrado de palavras curiosas e emboladas. Palavras vomitadas num tecido branco. Lapso não, coragem.

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