FAMÍLIA TRAPO

Lembro das corridas por entre os alicerces da casa que os abrigaria por no mínimo quinze anos. Eram nos montes de areia que se revelavam as estripulias de criança. A adrenalina, representada no perigo dos pregos e materiais de construção espalhados. Tudo só revelava o meu apreço por aventuras e afins. O esconde-esconde com os irmãos que acabavam dedurando-se uns aos outros - porque a graça da brincadeira estava em revelar a toca do outro - e que não sabiam contar direito até dez.

Lembro dos gritos da minha mãe sem acreditar que seu próprio marido tinha sido cúmplice daquele absurdo: os quatro tinham pulado tanto em cima da cama de casal que a pôs diretinho pro chão. Fez um estrondo enorme, mas as gargalhadas abafaram. Abafaram nada! Meio segundo e ela estava lá, sem acreditar no que estava vendo a rir também.

Lembro das viagens anuais por esse Brasil afora. A mini-cama sob encomenda encaixada entre os bancos da frente e o de trás do carro, onde dormia a irmãzinha. Eu tinha um banco só pra mim e o mano ficava lá em cima com as caixas de som. Um belo dia ele não mais cabia lá em cima e tivemos que dividir o banco. Era tanta desolação que dormimos agarradinhos e assim chegamos em Porto Seguro. Até que éramos os três. Nós tristes por não dormir deitados e nossos pais preocupados porque estávamos crescendo. Os pais sempre se preocupam com isso...

Enfim as confusões no banco de trás. A briga pela janela, só de pirraça:
- Vou na ponta!

A "briga" agora (que um dia também será lembrança):
- Vá na ponta!
- Não, pode ir!
- Podem deixar, eu vou no meio... :)
Foi quando os dois na frente se entreolharam concluindo que não precisavam se preocupar.

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