CALO

Quando uma pessoa, num desabafo, diz que terá paciência com você é o indício de um calo começando a incidir na curvatura do sapato. Ocorre que curativo nenhum resolve nesse caso. Só sapato velho. No shopping do dia-a-dia, pode-se encontrar sapatos novos tão ou mais confortáveis, mas custam caro.

Após a certeza de que cola nenhuma restitui o passado, vamos à procura de um All Star azul que combine com meu preto de cano alto... Um sapato versátil, que tenha salto macio e abraço anatômico. Que sirva de sapatilha nas horas vagas. Que entenda momentos em que se quer ficar descalço, sentindo a vibração da mãe terra e o vento na sola...

Mas enquanto eu não souber me equilibrar descalça, não vale a pena depender de sapatos, porque eles ora nos equilibram, ora provocam um passo em falso; podem ser lindos, porém desconfortáveis; apóiam, mas não trazem felicidade. Têm vida própria e caminham até você. Desfilam desesperados na esperança de serem observados. Querem ser sapatinho de cristal, que como num passe de mágica transforma sonho em realidade. Mas não quero mais encantos que acabam no badalar de um novo dia.

Quero no mínimo encantos imprevisíveis e surpreendentes, que começam com baile sem saber que a meia-noite está pra chegar. O final feliz é final (que se dane). Quero uma fada que nos calce num conto real. E não só até a meia-noite...

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