I-MAR-GENS

É como andar na praia:
Pé, areia e pegada.

A pegada é uma terceira coisa
com consistência de um e textura do outro.
Formato e imagem de um
adaptado ao contorno e aderência do outro.

Não é a insistência do pé que me intriga
e sim a delicadeza da pegada
demonstrando passo firme.

É o contraste do vulnerável
com as infinitas possibilidades de renovação.
É a beleza do mar enfurecido
apagando a pegada que parou de andar.

É de parar de andar que tenho medo.

Meus pés estão saindo da areia da praia,
apesar de ainda existirem as últimas pegadas.

Se a maré encher,
amanhã
(depois dessa noite clara)
meus pés tomarão outro rumo;
as pegadas não mais veremos;
e a areia continuará lá, solitária,
lamentando-se o vai e vem das águas atormentadas
transformando em buracos vazios
aquelas pegadas tão bonitas.

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