DURMA COM UM BARULHO DESSE!

A menina dormia ao meu lado fazendo o braço de travesseiro. Se esforçou olhando em volta pra descobrir a que ponto estávamos na viagem. Estávamos longe. Foi o que pareceu, já que olhou pela última vez. Aconchegou-se com a cabeça encostada na janela, deslizou o corpo, ajeitou o casaco, virou a bolsa e pronto, caiu num sono profundo!

Enquanto isso eu contemplava a minha agenda aberta, anotava belos compromissos miúdos e observava. Do lado de fora o mar - sempre ele! - compondo o cenário de todos os meus dias, cena pedinte de jazz e colo.

De repente um estardalhaço, um mexer-se brusco, uma vizinhança repentina, um olhar assustado, perdido no meio do ponto que já passou (imagina-se), um grito desesperado em minha direção:
- VOCÊ NEM PRA ME AVISAR!!!

Um silêncio. Ela caiu em si e viu que eu não era a vilã do sabe-se-lá-qual sonho que estava tendo. Duas pessoas sem graça. Uma situação publicamente constrangedora. Aprofunda-se o silêncio, dessa vez com tom de "desculpe-me!" seguido de um "tudo bem, acontece!". Um sinal que pede passagem (claro que eu dei, né? E rapidinho! A menina parecia ser uma fera!!!). Desceu arrasada, roxa de vergonha, coitada!

Coitada? Coitada de mim que fiquei convivendo com os olhares e o comentário do cobrador que, colocando a cabeça por fora da janela, não se conteve: "Vaaaai louca!!"

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