(de diários...) VIVER PELOS QUE PASSAM

Aí a gente tava lá gritando sorridente: "Chega mais freguesa!... é um real, é cinqüenta centavos...". Uma alegria que sabíamos de onde vinha. Chegava a ser engraçado. No início foi um pouco decepcionante. Gritavam, pegavam as roupas, pediam desconto, pagavam, saiam e acabavam levando uns "extras" nem calculados nem esperados por nós. Loucura. Prejuízo. Depois nos acalmamos, o ambiente se acalmou também. As feirantes vizinhas, que estão sempre por ali, vinham comprar na nossa mão pra revender depois. Era cada uma.

Mas foi gratificante! Impressionante como chegava um e ali mesmo já contava a própria vida. A senhora cheia de vestidos e maquiagem, freguesa das bôa, nos deu oito mangas que dividimos por dois (risos). A senhora gordita que perguntou com sotaque pra lá de carregado:
- diabéisso?
- É uma canga, pra ir pra praia
- Ah! Não. tudo que eu tinha pra mostrar já mostrei...

O senhor que queria porque queria que a gente arranjasse uma calça pra ele.
- Mas senhor, não tem mesmo, acabaram todas.
- Não, mas veja bem. Eu tô precisando, eu sou magrinho, e tal e coisa e coisa e tal...
- Humrum...

Até que chegou o seu Samuel, senhor de seus cinqüenta anos, estacionou sua "baratinha" vermelha, desceu do carro, ficou observando a gente até que resolveu vir em nossa direção. Já chegou fofo:
- Bom dia! Vocês vendem aqui, é?
- É (com tom de é e não é).
- hum... é pra ajudar alguém? vocês vendem baratinho, né?
- É sim, é pra ajudar umas amigas nossas. R$1, R$0,50...
- Ah! Então eu vou trazer umas das minhas filhas. Elas estão vindo do RN tão precisadas de roupa...
E começou a contar uma história linda, que ele já está acostumado a contar lá nos AA, do qual é coordenador de três grupos e participa há uns 3 anos, depois de ter feito tantas coisas que... ah! As coisas que seu Samuel já fez na vida, ficam no coração.

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